Sobre um dia de alegria

Mais um dia, comum
dos que valem a pena, 
Dos que chamaremos de saudade.

Chuva, pés molhados,
Riso solto, alma lavada
Semana intensa, compensada.

Amigos intensos,
verdades intensas.
Amores sólidos.
Amores construídos

No sol que aquece a pele
No coração que pulsa
no amor que se sente.
Aos que se dizem, são,
Amigos, irmãos.

Complexidade!

Já não sei mais quem eu sou, para que vim, o que tenho que fazer, ser. Ando vivendo pelo ócio, intrigante e pertubador. Andando com olhos na maioria das vezes desatentos, e marejados em lágrimas, de algum coisa que aperta aqui dentro.
E por baixo da silhueta ríspida do meu queixo, vejo um mundo, uma vida passar da qual acho que não caibo, da qual não me encaixo, como erva daninha no meio da plantação que está ali de intrusa e sucetível à poda, extinsão. Ainda não descobri o motivo desses monstros interiores terem se aflorado, pelo qual motivo me vejo assim, a única certeza que eu tenho é que a cada dia que passar morrerei lentamente, até o dia em que meus olhos não brilharem mais e as vontades e ilusões sumirem.

Reflexão

A gente vai vivendo
e vai morrendo...
E um dia de repente, para, olha, e sente-se um ar estranho em tudo,
ar da mudança,
de algo diferente,
um sentido diferente nas coisas da vida;

Saudade.

Hoje o sól estava a pino no céu,
Mas o que eu só conseguia enchergar o cinca das construções.
Sua partida deixou tudo sem brilho, sem cor...
E mesmo com o sol, senti um frio, um vazio aqui dentro,
Era porque você não estava mais aqui,
Era porque eu iria chegar em casa e não iria mais encontrar você,
Era porque todos os abraços e sorrisos planejados ja não iriam existir,
Não nessa vida,
Porque eu sei que você me espera,
Assim como eu espero,
E eu irei aguardar pelo nosso reencontro.
Descanse, pequena.


30/09/2012

Devaneios

Eu guardo e no mesmo tempo eu reviro
mexo, bagunço, e guardo de novo
a fundo, no escuro
rasgo e me rasgo
ê saudade
angustia que aperta
sentimento que vai e volta.

E ando
em frente,
e na mesma frequência eu volto
e no mesmo caminho me desvio
fico nesse vai e vem
nesse jogo que não aguento mais
de sentimentos malucos,
que nunca sabem se ficam
ou se vão embora.

Não sei porque chegou a esse ponto
é uma confusão, frequente
cheia de devaneios.


Não sei

Andamos sempre à procura de algo para nossa satisfação, mas nem sempre essa satisfação acontece ou é encontrada, e então vem a frustração e que quase sempre acaba com o brilho da procura, e assim aparece a desmotivação que caminha junto com a frustação, duas amigas rotineiras que andam lado a lado e em um simples gesto, como uma piscada de olhos, a outra entende que é um chamado. Mas a esperança, amiga distinta, também sempre anda por perto à espera de algum gesto de seu indivíduo, para assim ela poder exercer seu papel. E é assim que a aconfiança chega, e novamente a procura voltar ao caminho do qual ela seguia.

Mar em fúria

Impiedosas palavras
com tradução da infelicidade
do amargo sabor do veneno que escorre pela boca de tantos
que nos faz perecer a sua raiva e aos seus males.

Nessa perceptível troca de sabores e odores
vindo diretamente de um poço, desigual
sem exploradores capazes
sem conhecimento algum
fundo do poço,
escuro e frio.

São pedregulhos, e o ar está fédido
é tudo aquilo do qual correra, do que se escondera
chegou ávido, rápido demais.

Procuraste, e encontraste
a raiva, a inveja que andam juntas,
e tudo de mais podre que se passa em um coração vazio
como a corrente sanguínea que irriga os pulmões
para que os encha e respire toda a vontade alheia,
com todo fervor
do qual almeja ter, ser.

Saída

Procuro saída
encontro pedras
procuro caminhos
encontro confusão
procuro sonhos
e encontro o vazio
procuro fugir
encontro você.

Menino, bicho

É bicho do mato
é menino, é criança
é moço é adulto
interior e exterior
mesma face
mesma moeda
mesmo feitio.

E corre,
e anda,
com pés calejados do gosto
sem dor, sem rachaduras,
é natureza.
O barro ajuda
ameniza,
ferida.
Cura,
ciatrizes.
Amolece,
coração.
Modifica,
alma,
natureza.

Angústia

Cante
com toda inquietação que há em seu ser
com todo o orgulho que te habita
abrace-o como se fosse seu amado
segure-o como se fosse cabelo em água

Grite
o elouquecedor som que vem de dentro
que deseja sair, evadir
o que o aprisiona ja se tornou frio demais
pois as celas fédidas, apertadas e escuras já gritam
gritam pela liberdade
gritam pelo socorro
gritam pelo calor
gritam pelo sossego.

Partida

É como se alguém chegasse, batesse na porta e saisse correndo
há um vazio, ficou uma brecha
foi um vulto ou a porta ficou entreaberta?
Ou foi o vento que passou e assobiou?

De dentro pensei ter visto você
não me enganei ao ver sua silhueta
ah, que loucura que é essa minha cabeça
vivendo de alucinação
e sem ter qualquer explicação.

Chegou, e depois partiu
eu não vi
mas sei que estava ali.
Dá para sentir
o perfume é inconfundível
pois é o mesmo cheiro do outono,
mas já estamos no inverno.

Vendaval

Não é toda noite que você precisa,
mas sente.
Não é todo momento que você lembra.
mas está presente.

Como se fosse um pingo da chuva.
que te molha e evapora.
Do mesmo jeito que molhava sua roupa,
nas tardes chuvosas do outono
quando você queria bincar lá fora,
no jardim.

É como se passasse uma ventania
levando tudo, evaporando-a
pensamentos e sentimentos.

Ar da liberdade, do sorriso
do risco, do querer
do desvendar, do ficar.

Vontade

Eu queria ser um pouco mais igual todo mundo
queria ser um pouco menos e um pouco mais também,
no mais ambições determinadas
no menos dores profundas
no menos sentimentalismo doentio.

Queria viver sem monstros interiores, que inquietude!
sem o martírio do pensamento
da insensibilidade de ser.

Queria acreditar em todas as verdades falsas
na sinceridade de todos amigos
na pureza de todos aplausos e de todas as pedradas.

Queria ser amada como toda gente
e como todos, e variar no amor
despreocupada.

Eu queria ter a alma simples de coisas pesadas
tão simples como esta tarde da qual escrevo
com sorrisos falsos de pessoas que se dizem amigas
e é possível que certamente,
eu acreditasse.

Canto de glória

Qualquer que seja o teu destino, seu rumo;
quaisquer que sejam os de nossas vidas
por mais desencontros;
por mais que não queiras
e que eu não queira;
por mais que a sorte nos afaste;
por mais que as multidões e os quilômetros
se interponham e intervenham entre nós dois;
e eu queira te esquecer,
tu hás de ser sempre, eternamente,
minha amada.
Sofrendo, cantando e sonhando
eu te diferenciei de todas, a mais bela
talvez não como tu és, mas como eu te inventei,
no envolto de minha secular emoção,
futuro adentro, além de mim!

Viver, levar

Assim como tudo passa, o vento leva, a água traz, os braços deixam os corpos que estavam conectados, a voz se enfraquece com cada passo dado, e assim a vida se vai a cada minuto que se desfruta dela ou não, e viver é a melhor parte para que nada se perca, para tudo que for levado vá por alguma razão, e que fique guardado o que de bom ficou, do que se foi.

Muita, coisa solta

É muita gente falando nada e pensando tudo
Muita coisa desperdiçada, solta e sem rumo

Pensamentos voam com o vento
O mesmo vento que leva a tristeza e que traz a dor

E estão todos ligados
Muitas vezes enfiados em um simples marasmo
Sem volta,  presos, fugitivos e aguniandos

Muita coisa sem volta

Pessoas não se calam, vozes ainda falam (?)
Não siga, persista
E você vai em frente, aguenta, experimenta
E no final
Espera.

Junto a ti

Junto a ti, em silêncio
Meu corpo respira, acalma
Não é como se fosse uma música
Mas faz um bem danado para a alma

Silêncio que pode vir de longe, de perto
Mas fique esperto (pode doer)

Penso inquietudes
Afetando meu eu, como se fosse brasa
Que queima, arde e arraza  (coração)

O despertar dos desejos mais insanos
São coisa de um ser humano
Com suas ideias propícias,
E todas cheias de malícia (vida)

Chegue, sente
A inquietude do meu coração abraça, afaga

Não tenha medo,
Desejos loucos todos temos
Mesmo que alguns possam parecer pequenos

Mas não vá, fique
Sonhe comigo, não fique triste
Seu amor basta, não duvide

Pra que mais silêncio,
Se junto a ti a sinfonia se completa,
E meu coração sossega?

Prosa

Me leve minha prosa
Seja bondosa
Me leve para onde for
Me tira desse profundo mar de alucinações inoportunas

Me busque, me pegue
Invente uma fulga para nós
Nos leve para sua calmaria,
Seu ponto de partida

Me beije, me abrace, me sinta
E deixe eu ser apenas o que você quiser

Me amarre, me jogue, me leve
Me leve para seus braços acalentados

Me deixe repousar sobre o veludo que és tua pele
Me deixe com você
Me leve para onde você for.

Para lembrar


Lembra da primeira vez...
De quando nossos olhos se encontraram
De quando nossos sorrisos de conectaram
De quando nosso coração bateu diferente?
De como um olhava para o outro
De como o jeito de pegar na mão foi diferente?
Amor.
Lembra do nosso primeiro beijo,
Nervoso e sem jeito?
De como minhas mãos estavam trêmulas,
De emoção, e talvez até alegria, por saber que não seria somente aquela vez,
Lembra?
Amor.

Já ouvi muitos dizerem por ai que amor a primeira vista não existe.
Provei do meu próprio veneno, pois é.

É diferente de tudo, inigualável, um vendaval
É como se fosse injetada adrenalina diretamente no coração
Acelerando ao máximo, adrenalina de amor
Remédio, ou uma droga, perfeita, e que cura ferida.

Do gostar

Gosto do frio. Gosto do quente. Gosto do amor e do amar. Do conhecer e do saber. Do drama delinquente. Do sofrer. Do amanhecer.

Que seja

Nem sempre você se sente sozinha porque quer, mas sua mente pede, seu corpo exige. O subconsciente afeta.

Amiga.

Amiga de copo, amiga de vida, amiga de brisa.
Tudo e todos e nós duas em um só.
Um só coração, uma só música, um só compasso.
De todas a mais confortante e sábia.
Do mundo, a mais mãe e amiga.
Da vida, meu carma!
Ah amiga, o que seria minha vida.
Sem nossas brisas, brigas e planos.
Coisas de um ser humano.
Ai se um dia ousasse a me deixar.
Eu iria te buscar.
Nem que fosse preciso nadar.

Abraço

O gosto de um abraço sincero, a suavidade de um sorriso singelo. Tudo o que você esta precisando quando seu coração está sangrando, gritando, implorando. Seu corpo necessita, sua mente suplica. Abraço. O que vem a te confortar, aquele que vem a te abraçar. Sinta. Como se tudo parasse e sua mente se focasse em um só sentido. Abrace.

Uma hora

Nada como seu afago, seu abraço, e as vezes seu jeito amargo.
Tudo em você, tudo em mim, tudo em nós.
Ao todo dois, um par, um perfeito par.
O mundo ao nosso favor e a vida ao nosso dispor.
Sim, temos o melhor amor do mundo.

No banco da praça

Em um dia qualquer, não me lembro qual exatamente, em uma praça qualquer, sentada e olhando para o nada com a cara mais entediada do mundo, um jovem veio caminhando até onde eu me encontrava, com um rosto frio e pálido, parecia que sangue não corria em suas veias, cheguei a ficar estática e cheguei a pensar por um vasto milésimo de segundo que seria de fato um corpo cadavérico e que estaria vindo a mim pelo simples motivo de querer me levar com ele para onde quer que ele fosse, eu não sabia o porque, mas se ele quisesse realmente me levar, não hesitaria muito em ir com ele.
Então o jovem, um rapaz esguio e mesmo em seu estado expressivo, tinha uns traços bem bonitos, cabelos curtos em tom um pouco dourado/acobreado - quando está frio nessa cidade tudo fica tão cinzento que as vezes não conseguimos distinguir muito bem as cores - olhos claros, olhar penetrante, queixo quadrado, lábios não muito grossos mas bem desenhados, nariz no lugar e orelhas também. Ele se sentou bem ao meu lado, - e venho aqui lembrar que nem o convidei -, até porque minha expressão era de uma pessoa assustada e tenho certeza que minha cara não era das mais convidativas, mas o deixei ali, o banco não era meu mesmo, nem me importei. Então esse belo rapaz, prefiro me referir assim, virou-se para mim e me olhou com aqueles olhos penetrantes que pareciam um mar de desilusão, e então eu não me contive e já fui abrindo minha boca para falar algo, até porque não estava mais aguentando aquele clima tenso pairando, e minha expressão, e a dele também. - “olá rapaz” -, sorri, - “está tão entediado quanto a mim que também se sentou para olhar para o nada?” - perguntei, mesmo sabendo que não era o que eu realmente queria saber. E com a voz que eu imaginava que sairia da boca dele, uma voz sem gosto, sem ânimo, ele falou: “Olá moça”, ele sorriu de volta, mas não com a mesma vontade que eu, - “estava só andando por aí, já estava cansado e por isso resolvi parar, mas também posso dizer que há sim um pouco de tédio” -, e fez uma cara de desânimo e continuou a me olhar como se esperasse que eu tirasse uma bala do bolso e lhe oferecesse, mas não aconteceu. “Ah que bom, estava fazendo uma caminhada então né?, faz bem mesmo!”, agora já sorri mais contida esperando que ele respondesse que realmente estaria caminhando. “Sim estava caminhando, mas não uma caminhada para me exercitar, na verdade estou caminhando há muito tempo, horas, dias, meses talvez, não lembro, já não faço mais essa contabilidade, apenas deixo me levar”, e olhou para o lado para acompanhar alguns pássaros que haviam voado da copa de uma árvore. “Mas essa sua caminhada não tem rumo? Apenas sai andando e vai para onde o vento te levar?”, agora minha expressão de assustada se transformou em curiosidade. “Rumo, isso é uma palavra que passa pela minha cabeça a cada minuto, qual o rumo disso? Para onde vou? Mas não sei, apenas ando, mas com o sentimento que chegarei ao meu destino, mesmo não sabendo qual”, ele disse. “Não consigo entender como uma pessoa jovem como você, bonito pelo que vejo, sai sem rumo, sem nenhum objetivo”, disse sem me impor muito, já estava agoniada. Então ele colocou sua mão em meu ombro e me olhou fixamente. “Mesmo que eu ande sem rumo, e sem nenhum objetivo, eu sei que não é atoa, já passei por muitas coisas em minha vida, dor, muitas lágrimas, perdas e também houve muita felicidade, mas logo dor, lágrimas e perdas novamente. Então, essa minha caminhada é para eu chegar em algo ou a algum lugar, mesmo que eu não saiba qual, mas serei recompensado por todo esse caminho pelo qual já percorri”, ele disse com uma voz um tanto serena, e eu quase já não reconhecia mais o rapaz que sentou ao meu lado e que disse um “oi” com uma voz sem ânimo e sem vida. Fiz uns belos trinta segundos de silêncio para pensar no que ele disse e então retruquei: “E você acredita mesmo nisso tudo? Que ao final dessa sua jornada você terá alguma recompensa? E se tudo isso for em vão? Acabar e não acontecer nada de bom?” - Já o olhava de maneira diferente, não sei dizer como, talvez com mais agonia por isso, pelo medo dele não conseguir nada com aquilo que estava fazendo. Acho que nesses trinta minutos de conversa já tinha me afeiçoado a esse rapaz, como se fosse um amigo. Então ele me respondeu: “Sim, eu acredito. E é por isso que continuo nessa caminhada. Mas se ao final de tudo não houver recompensa, não me importo. Tudo o que eu já aprendi, vi e vivi até aqui em todo esse tempo já vale, talvez isso seja minha recompensa na verdade, aprender com perdas, dor, lágrimas e ganhos também. Aprender com as pessoas, talvez esse seja a maior recompensa, porque conheci muita gente e de todos os tipos, e tive experiências das quais levarei por toda minha vida, e assim como hoje, você esta fazendo parte da minha vida também e vou levá-la em minhas histórias. Porque por mais que a gente não se conheça, eu sei que dentro de você se passam muitas coisas boas, sei que você também já sofreu muito por alguém ou por algo e já passou por fortes dores, lágrimas e perdas, e essa sua preocupação de eu não conseguir é a mesma que você já teve um dia, eu sei, mas você superou não foi? Você foi forte e conseguiu, não é mesmo?. Pois bem, eu costumo não esperar muita coisa de pessoas que acabo de conhecer, mas eu sei reconhecer uma boa pessoa com alguns minutos de conversa, e são os gestos mais bonitos dessas pessoas que eu prezo e guardo comigo, e isso também me ajuda a não desistir. E por isso acho que não é em vão essa minha caminhada, tudo está sendo um aprendizado, na verdade”, logo que ele acabou eu abaixei minha cabeça olhando para o chão e ficamos em silêncio por alguns segundos o que me fez, mesmo que rápido, pensar um pouco - pensei, e falei: “Não sei o que dizer, nunca pensei de tal forma. Para mim objetivos e resultados sempre foram prioridade para eu buscar algo. E como você sabe dessas coisas que passam ou que já passaram comigo eu não sei, mas de alguma forma eu acredito em você. E tudo o que você me disse fez-me ver outro lado, do qual não acreditava, de seguir e de olhar para frente mesmo não sabendo o que irá encontrar, mas de continuar acreditando e perseverando, e mesmo que, o que espera não aconteça, de alguma forma você já o conseguiu sem saber. Palavras simples, e sábias. Eu aprendendo com uma pessoa que conheço a menos de uma hora, incrível”, desabafei. Olhei para o lado do jovem para obter algum tipo de expressão e ele já não estava mais, e então eu fiquei sem entender, pensei até em ter cochilado e aquilo ter sido um sonho, apesar de ter parecido tão real. Sumiu, e nem falou seu nome ou de onde veio, também não perguntei, mas talvez ele iria falar. Pode ser que ele passou só para me colocar em sua história de mais uma entre outras tantas conversas de uma hora ou menos. Ele se foi e eu não consegui parar de pensar naquele jovem que chegou com uma aparência tão piedosa e se mostrou tão sábio com palavras simples mas com intenções maravilhosas. E eu, ainda continuo aqui sentada, pensando, entendiada, mas pensando no que uma pessoa pessoa sem nome e sem rumo me disse.

O que há, não sei

Não consigo escutar mais nada, tudo ficou mudo, e já não consigo mais ouvir as vozes que vagam em meus pensamentos. Está tudo tão estranhamente calmo, obscuro demais e mais do que estranho, distorcido. Todas as palavras que são pronunciadas ou jogadas a mim se transformam em um louco quebra-cabeça, ou como se fosse um monte de cacos que não se encaixam por mais que sejam de uma mesma peça. De onde veio tudo isso? Como tudo aconteceu? Enlouqueci, e ninguém quis me colocar em um hospício? Como não? Perguntas sem respostas, apenas. E então, eis que descubro que estou presa em um sonho, mudo, igual ao cinema, mas no meu sonho não há legendas, tenho que decifrá-lo da maneira mais cabível a mim e com a as ferramentas, ou não, que estiverem em minhas mãos, ou ao meu alcance. É uma busca por respostas quase que interminável e enlouquecedora, sem ruídos, sem sons, sem nenhuma espécie de gemido, ou ofegação. Assim, comecei a me sentir em um abismo em que eu só sentia meu corpo caindo, sim, como a Alice. Mas meu sonho não era cheio de efeitos especiais, cores e caras legais, tudo não passava de preto e branco como os uniformes de presidiários, e eu poderia falar até que estava em uma cadeia, nada muito diferente, só as grades que me mantiam presas eram diferentes.

Tempo

Já se passou tanto tempo e você ainda faz parte, visitando meus sonhos, e posso dizer que chega a ser engraçado quando eu acordo. E ainda acho incrível como você ainda esta em mim e eu me comporto de uma maneira como se não estivesse. É estranho até. E no mais me importo, me preocupo, gosto, amo, agora de uma maneira mais amena, pacata, mas ainda há sentimento, do qual lógico que eu não escolhi ficar, e que na verdade pensei que ele iria embora quando você me disse que nosso caminho tinha acabado, que a linha final ja tinha chegado. Pois é, de muitas formas a vida nem sempre nos da escolha de tudo né. E como pensas, eu não parei de escrever de ti, só não escrevo mais para ti. E agora o que sai apenas, são desabafos, angustias, muitas das alegrias compartilhadas da vivência, e das quais eu gosto de lembrar, sempre. No felizmente ou infelizmente chegou ao fim, é, mas ainda há muito de você em mim, e sei que há muito de mim em ti, ficou. Aprendemos e crescemos juntos. E isso faz bem, e quer dizer que há ainda um sentimento que nos liga, um sentimento forte, que não é amor para que duas pessoas fiquem juntas para formar um “nós”, mas um amor, um carinho para que o caminhos dos dois continue um ao lado do outro, sem precisar ir embora, sem precisar acabar com o bonito que ficou, e é bom assim, prefiro assim, você ficar, de qualquer forma, é bom, presença.

Ausência

Será que essa falta de ar que venho sentindo nas últimas semanas é angústia? Do mesmo jeito que falta, sobra o ar, sufoca, invade, domina, determina, pede, leve, peso, dia, noite, falta, excesso... Tudo ao mesmo tempo... O mais difícil é a sensação de perder algo que já não era mais seu, de abrir mão do que não lhe pertence, de sentir falta do que nunca existiu de verdade, apenas a ilusão cretina de segurança que a minha necessidade infantil de proteção criou. Como sempre afirmei, não é possível sentir falta de algo que nunca teve! Mas acho que na verdade isso tudo é medo, medo do novo, medo do bom, medo de crescer, de se tornar realmente responsável por si, medo de fazer a escolha, medo do erro, da revolta, do arrependimento, medo de perder as migalhas que lhe são jogadas no fim do banquete. Porque decidir é tão difícil? Porque preferimos a tragédia à opção? Não sou mais aquela menina que acredita no acaso, cresci, tenho que acreditar na conseqüência, afinal toda ação tem uma reação, cada escolha uma renúncia. Mas renunciar a que? A culpa é do meu comodismo, do meu excesso de exigência, de querer que se torne o meu reflexo, mas como posso querer isso, se muitas vezes não gosto do que vejo quando olho no espelho?

(texto adaptado)

Jogo

A brincadeira acabou sendo extinta por aparecerem sentimentos fora do comum, em uma mistura de aflição, medo, raiva, tristeza, ócio. As ferramentas usadas não causam o impacto que foi planejado e então o buraco negro começa mais uma vez sua busca para sugar o que sobrou. Resultados são precisos, o jogo de alucinações fica cada vez mais enlouquecedor e acabando com a pouca vitalidade que existe na mente desse ser fraco e pessimista do qual se olha diariamente no espelho, esboçando um semblante da melancolia viva, exposta na carne, na pele, nos olhos, seu ser. Acabou, é o fim da eloquente e assustadora trajetória de um deserto sem fim, onde o único vento que sopra ao seus ouvidos, é o vento da morte, do afago, da dor.

Zerar

Um bom e estranho recomeço para nós, onde não estamos acostumados com a rotineira vida de um largado na vida cujas suas vontades não implicam nas vontades alheias. Estranho entendimento da vida vista por fora, por dentro, poço, fim. Cheia de dores escondidas, presas, costuradas, em um medo de jogar, de se livrar, de perder em uma drenagem total do organismo alucinado para expulsá-lo. Com todos os modos o que parecia ser tão indestrutível com o tempo se tornou apenas mais um galho de fácil e de livre acesso onde todos podem pegar, juntar e fazer uma fogueira. Estranhamente o velho vai voltar e dizer o que disse no sonho que foi produzido por uma mente embriagada de dor e amor. Um lembrete que deixou foi só o de que não voltará mais para esse playground onde os brinquedos já não tem mais tanto seu valor, que as peças enferrujadas já assustam seus clientes, e que a aparência viril virou apenas lixo de uma memorável história de caminhos pertubados.

Penso, logo...

O seu cheiro ainda esta na minha pele
O gosto de mel dos seus lábios ainda estão nos meus
Ainda sinto arrepios de imaginar seu toque pelo meu corpo
Lembro de todos sussurros até os que eu não entendi perfeitamente
Com você tudo é claro
Com você tudo fica em perfeita sintonia
Porque enquanto o mundo acaba lá fora, aqui dentro me sinto no paraíso
Uma ilusão perfeita, da qual necessito.