No banco da praça

Em um dia qualquer, não me lembro qual exatamente, em uma praça qualquer, sentada e olhando para o nada com a cara mais entediada do mundo, um jovem veio caminhando até onde eu me encontrava, com um rosto frio e pálido, parecia que sangue não corria em suas veias, cheguei a ficar estática e cheguei a pensar por um vasto milésimo de segundo que seria de fato um corpo cadavérico e que estaria vindo a mim pelo simples motivo de querer me levar com ele para onde quer que ele fosse, eu não sabia o porque, mas se ele quisesse realmente me levar, não hesitaria muito em ir com ele.
Então o jovem, um rapaz esguio e mesmo em seu estado expressivo, tinha uns traços bem bonitos, cabelos curtos em tom um pouco dourado/acobreado - quando está frio nessa cidade tudo fica tão cinzento que as vezes não conseguimos distinguir muito bem as cores - olhos claros, olhar penetrante, queixo quadrado, lábios não muito grossos mas bem desenhados, nariz no lugar e orelhas também. Ele se sentou bem ao meu lado, - e venho aqui lembrar que nem o convidei -, até porque minha expressão era de uma pessoa assustada e tenho certeza que minha cara não era das mais convidativas, mas o deixei ali, o banco não era meu mesmo, nem me importei. Então esse belo rapaz, prefiro me referir assim, virou-se para mim e me olhou com aqueles olhos penetrantes que pareciam um mar de desilusão, e então eu não me contive e já fui abrindo minha boca para falar algo, até porque não estava mais aguentando aquele clima tenso pairando, e minha expressão, e a dele também. - “olá rapaz” -, sorri, - “está tão entediado quanto a mim que também se sentou para olhar para o nada?” - perguntei, mesmo sabendo que não era o que eu realmente queria saber. E com a voz que eu imaginava que sairia da boca dele, uma voz sem gosto, sem ânimo, ele falou: “Olá moça”, ele sorriu de volta, mas não com a mesma vontade que eu, - “estava só andando por aí, já estava cansado e por isso resolvi parar, mas também posso dizer que há sim um pouco de tédio” -, e fez uma cara de desânimo e continuou a me olhar como se esperasse que eu tirasse uma bala do bolso e lhe oferecesse, mas não aconteceu. “Ah que bom, estava fazendo uma caminhada então né?, faz bem mesmo!”, agora já sorri mais contida esperando que ele respondesse que realmente estaria caminhando. “Sim estava caminhando, mas não uma caminhada para me exercitar, na verdade estou caminhando há muito tempo, horas, dias, meses talvez, não lembro, já não faço mais essa contabilidade, apenas deixo me levar”, e olhou para o lado para acompanhar alguns pássaros que haviam voado da copa de uma árvore. “Mas essa sua caminhada não tem rumo? Apenas sai andando e vai para onde o vento te levar?”, agora minha expressão de assustada se transformou em curiosidade. “Rumo, isso é uma palavra que passa pela minha cabeça a cada minuto, qual o rumo disso? Para onde vou? Mas não sei, apenas ando, mas com o sentimento que chegarei ao meu destino, mesmo não sabendo qual”, ele disse. “Não consigo entender como uma pessoa jovem como você, bonito pelo que vejo, sai sem rumo, sem nenhum objetivo”, disse sem me impor muito, já estava agoniada. Então ele colocou sua mão em meu ombro e me olhou fixamente. “Mesmo que eu ande sem rumo, e sem nenhum objetivo, eu sei que não é atoa, já passei por muitas coisas em minha vida, dor, muitas lágrimas, perdas e também houve muita felicidade, mas logo dor, lágrimas e perdas novamente. Então, essa minha caminhada é para eu chegar em algo ou a algum lugar, mesmo que eu não saiba qual, mas serei recompensado por todo esse caminho pelo qual já percorri”, ele disse com uma voz um tanto serena, e eu quase já não reconhecia mais o rapaz que sentou ao meu lado e que disse um “oi” com uma voz sem ânimo e sem vida. Fiz uns belos trinta segundos de silêncio para pensar no que ele disse e então retruquei: “E você acredita mesmo nisso tudo? Que ao final dessa sua jornada você terá alguma recompensa? E se tudo isso for em vão? Acabar e não acontecer nada de bom?” - Já o olhava de maneira diferente, não sei dizer como, talvez com mais agonia por isso, pelo medo dele não conseguir nada com aquilo que estava fazendo. Acho que nesses trinta minutos de conversa já tinha me afeiçoado a esse rapaz, como se fosse um amigo. Então ele me respondeu: “Sim, eu acredito. E é por isso que continuo nessa caminhada. Mas se ao final de tudo não houver recompensa, não me importo. Tudo o que eu já aprendi, vi e vivi até aqui em todo esse tempo já vale, talvez isso seja minha recompensa na verdade, aprender com perdas, dor, lágrimas e ganhos também. Aprender com as pessoas, talvez esse seja a maior recompensa, porque conheci muita gente e de todos os tipos, e tive experiências das quais levarei por toda minha vida, e assim como hoje, você esta fazendo parte da minha vida também e vou levá-la em minhas histórias. Porque por mais que a gente não se conheça, eu sei que dentro de você se passam muitas coisas boas, sei que você também já sofreu muito por alguém ou por algo e já passou por fortes dores, lágrimas e perdas, e essa sua preocupação de eu não conseguir é a mesma que você já teve um dia, eu sei, mas você superou não foi? Você foi forte e conseguiu, não é mesmo?. Pois bem, eu costumo não esperar muita coisa de pessoas que acabo de conhecer, mas eu sei reconhecer uma boa pessoa com alguns minutos de conversa, e são os gestos mais bonitos dessas pessoas que eu prezo e guardo comigo, e isso também me ajuda a não desistir. E por isso acho que não é em vão essa minha caminhada, tudo está sendo um aprendizado, na verdade”, logo que ele acabou eu abaixei minha cabeça olhando para o chão e ficamos em silêncio por alguns segundos o que me fez, mesmo que rápido, pensar um pouco - pensei, e falei: “Não sei o que dizer, nunca pensei de tal forma. Para mim objetivos e resultados sempre foram prioridade para eu buscar algo. E como você sabe dessas coisas que passam ou que já passaram comigo eu não sei, mas de alguma forma eu acredito em você. E tudo o que você me disse fez-me ver outro lado, do qual não acreditava, de seguir e de olhar para frente mesmo não sabendo o que irá encontrar, mas de continuar acreditando e perseverando, e mesmo que, o que espera não aconteça, de alguma forma você já o conseguiu sem saber. Palavras simples, e sábias. Eu aprendendo com uma pessoa que conheço a menos de uma hora, incrível”, desabafei. Olhei para o lado do jovem para obter algum tipo de expressão e ele já não estava mais, e então eu fiquei sem entender, pensei até em ter cochilado e aquilo ter sido um sonho, apesar de ter parecido tão real. Sumiu, e nem falou seu nome ou de onde veio, também não perguntei, mas talvez ele iria falar. Pode ser que ele passou só para me colocar em sua história de mais uma entre outras tantas conversas de uma hora ou menos. Ele se foi e eu não consegui parar de pensar naquele jovem que chegou com uma aparência tão piedosa e se mostrou tão sábio com palavras simples mas com intenções maravilhosas. E eu, ainda continuo aqui sentada, pensando, entendiada, mas pensando no que uma pessoa pessoa sem nome e sem rumo me disse.

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