Tempo

Já se passou tanto tempo e você ainda faz parte, visitando meus sonhos, e posso dizer que chega a ser engraçado quando eu acordo. E ainda acho incrível como você ainda esta em mim e eu me comporto de uma maneira como se não estivesse. É estranho até. E no mais me importo, me preocupo, gosto, amo, agora de uma maneira mais amena, pacata, mas ainda há sentimento, do qual lógico que eu não escolhi ficar, e que na verdade pensei que ele iria embora quando você me disse que nosso caminho tinha acabado, que a linha final ja tinha chegado. Pois é, de muitas formas a vida nem sempre nos da escolha de tudo né. E como pensas, eu não parei de escrever de ti, só não escrevo mais para ti. E agora o que sai apenas, são desabafos, angustias, muitas das alegrias compartilhadas da vivência, e das quais eu gosto de lembrar, sempre. No felizmente ou infelizmente chegou ao fim, é, mas ainda há muito de você em mim, e sei que há muito de mim em ti, ficou. Aprendemos e crescemos juntos. E isso faz bem, e quer dizer que há ainda um sentimento que nos liga, um sentimento forte, que não é amor para que duas pessoas fiquem juntas para formar um “nós”, mas um amor, um carinho para que o caminhos dos dois continue um ao lado do outro, sem precisar ir embora, sem precisar acabar com o bonito que ficou, e é bom assim, prefiro assim, você ficar, de qualquer forma, é bom, presença.

Ausência

Será que essa falta de ar que venho sentindo nas últimas semanas é angústia? Do mesmo jeito que falta, sobra o ar, sufoca, invade, domina, determina, pede, leve, peso, dia, noite, falta, excesso... Tudo ao mesmo tempo... O mais difícil é a sensação de perder algo que já não era mais seu, de abrir mão do que não lhe pertence, de sentir falta do que nunca existiu de verdade, apenas a ilusão cretina de segurança que a minha necessidade infantil de proteção criou. Como sempre afirmei, não é possível sentir falta de algo que nunca teve! Mas acho que na verdade isso tudo é medo, medo do novo, medo do bom, medo de crescer, de se tornar realmente responsável por si, medo de fazer a escolha, medo do erro, da revolta, do arrependimento, medo de perder as migalhas que lhe são jogadas no fim do banquete. Porque decidir é tão difícil? Porque preferimos a tragédia à opção? Não sou mais aquela menina que acredita no acaso, cresci, tenho que acreditar na conseqüência, afinal toda ação tem uma reação, cada escolha uma renúncia. Mas renunciar a que? A culpa é do meu comodismo, do meu excesso de exigência, de querer que se torne o meu reflexo, mas como posso querer isso, se muitas vezes não gosto do que vejo quando olho no espelho?

(texto adaptado)

Jogo

A brincadeira acabou sendo extinta por aparecerem sentimentos fora do comum, em uma mistura de aflição, medo, raiva, tristeza, ócio. As ferramentas usadas não causam o impacto que foi planejado e então o buraco negro começa mais uma vez sua busca para sugar o que sobrou. Resultados são precisos, o jogo de alucinações fica cada vez mais enlouquecedor e acabando com a pouca vitalidade que existe na mente desse ser fraco e pessimista do qual se olha diariamente no espelho, esboçando um semblante da melancolia viva, exposta na carne, na pele, nos olhos, seu ser. Acabou, é o fim da eloquente e assustadora trajetória de um deserto sem fim, onde o único vento que sopra ao seus ouvidos, é o vento da morte, do afago, da dor.

Zerar

Um bom e estranho recomeço para nós, onde não estamos acostumados com a rotineira vida de um largado na vida cujas suas vontades não implicam nas vontades alheias. Estranho entendimento da vida vista por fora, por dentro, poço, fim. Cheia de dores escondidas, presas, costuradas, em um medo de jogar, de se livrar, de perder em uma drenagem total do organismo alucinado para expulsá-lo. Com todos os modos o que parecia ser tão indestrutível com o tempo se tornou apenas mais um galho de fácil e de livre acesso onde todos podem pegar, juntar e fazer uma fogueira. Estranhamente o velho vai voltar e dizer o que disse no sonho que foi produzido por uma mente embriagada de dor e amor. Um lembrete que deixou foi só o de que não voltará mais para esse playground onde os brinquedos já não tem mais tanto seu valor, que as peças enferrujadas já assustam seus clientes, e que a aparência viril virou apenas lixo de uma memorável história de caminhos pertubados.