Ausência

Será que essa falta de ar que venho sentindo nas últimas semanas é angústia? Do mesmo jeito que falta, sobra o ar, sufoca, invade, domina, determina, pede, leve, peso, dia, noite, falta, excesso... Tudo ao mesmo tempo... O mais difícil é a sensação de perder algo que já não era mais seu, de abrir mão do que não lhe pertence, de sentir falta do que nunca existiu de verdade, apenas a ilusão cretina de segurança que a minha necessidade infantil de proteção criou. Como sempre afirmei, não é possível sentir falta de algo que nunca teve! Mas acho que na verdade isso tudo é medo, medo do novo, medo do bom, medo de crescer, de se tornar realmente responsável por si, medo de fazer a escolha, medo do erro, da revolta, do arrependimento, medo de perder as migalhas que lhe são jogadas no fim do banquete. Porque decidir é tão difícil? Porque preferimos a tragédia à opção? Não sou mais aquela menina que acredita no acaso, cresci, tenho que acreditar na conseqüência, afinal toda ação tem uma reação, cada escolha uma renúncia. Mas renunciar a que? A culpa é do meu comodismo, do meu excesso de exigência, de querer que se torne o meu reflexo, mas como posso querer isso, se muitas vezes não gosto do que vejo quando olho no espelho?

(texto adaptado)

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